A VERDADE SOBRE O YÔGA CLÁSSICO

O Yôga Clássico, ou Rája Yôga, é o Yôga de Pátañjali e seu texto básico é o Yôga Sútra. O Yôga Clássico, ou Ashtánga Yôga, é constituído pelas oito partes mencionadas no capítulo I, sútra 29, do Yôga Sútra:

  1. yama - cinco proscrições éticas;

  2. niyama - cinco prescrições éticas;

  3. ásana - técnicas orgânicas;

  4. pránáyáma - expansão da bioenergia através de respiratórios;

  5. pratyáhára - abstração dos sentidos externos;

  6. dháraná - concentração mental;

  7. dhyána - meditação;

  8. samádhi - estado de hiperconsciência.

De acordo com a tradição do verdadeiro Yôga Clássico, o discípulo somente passa ao anga seguinte quando já dominou o precedente. Isso significa que, no Rája Yôga, antes de praticar técnicas corporais ou respiratórias, o instrutor só pode ensinar a parte ética – cinco yamas e cinco niyamas – e assim permanecer durante anos, até que os discípulos já tenham assimilado na sua vida cotidiana esses rígidos princípios morais. Acontece que muitos ensinantes de Yôga Clássico não cumprem tais normas éticas e nem mesmo as conhecem. São elas:

Yamas:

  • ahimsá (não agredir);

  • satya (não mentir);

  • astêya (não roubar);

  • brahmáchárya (não dissipar a sexualidade);

  • aparigraha (não cobiçar).

Niyamas:

  • shaucha (limpeza);

  • santôsha (alegria);

  • tápas (auto-superação);

  • swádhyáya (auto-estudo);

  • íshwara pranidhána (auto-entrega).

No que concerne ao ahimsá, a não-agressão, conhecemos um bom número de supostos yôgins e ensinantes que agridem seus colegas só porque professam outra linha de Yôga.

Quanto ao satya, não mentir, muitos são os que afirmam inverdades bem graves sobre o Yôga e sobre os seus colegas. Como acreditar num instrutor que mente?

Mais freqüente ainda é o desrespeito ao astêya, não roubar, pois cotidianamente detectamos o roubo de idéias, métodos, conceitos, frases e até textos inteiros, utilizados por um instrutor ou escritor, sem render o devido crédito autoral a quem de direito. Um caso vergonhoso foi um livro de "yóga", assinado por alguém que usava nome suposto, e que era o plágio despudorado de um livro espírita sobre um assunto que nada tinha a ver com o Yôga nem com "a yóga", copiado na íntegra. O leitor leigo, que não entende coisa alguma, compra, lê e baralha tudo.

Não apenas o Yôga Clássico, mas qualquer ramo de Yôga de linha Brahmáchárya, reconhece o quarto yama como sendo uma restrição clara e absoluta à atividade sexual. Somente as modalidades de Yôga de tradição tântrica é que admitem um sentido mais tolerante, de "castidade-nos-atos-sexuais", pois utilizam a sexualidade como ferramenta para alavancar a evolução interior.

O exercício tântrico denominado maithuna, longe de podar a sexualidade, amplia sua força e canaliza-a para fins de desenvolvimento pessoal. Essa prática permite direcionar a libido para o melhor rendimento na profissão, nos estudos e no esporte. Incrementa a vitalidade e a saúde como um todo. Por isso proporciona rejuvenescimento e expande a expectativa de vida. A finalidade, porém, é fornecer mais energia para a kundaliní e, conseqüentemente, facilitar a conquista do samádhi. Contudo, não nos esqueçamos, esta é uma visão Tántrika da sexualidade. O Yôga Clássico é Brahmáchárya: determina que o sexo seja evitado até em pensamentos. Mesmo na seleção dos alimentos proíbe sumariamente, por exemplo, a ingestão do alho e da cebola por estimularem a sexualidade. Um praticante autêntico de Yôga Clássico não deveria ser casado. Muito menos um instrutor dessa modalidade.

Fora isso, o fato de o candidato à prática do Yôga Clássico ter que iniciar por um demorado processo de reeducação moral antes de aprender qualquer técnica; estabelece uma verdadeira barreira que bloqueia o interesse do público.

Mesmo na etapa seguinte, a das técnicas corporais, o Yôga Clássico não possui em seu acervo mais do que posturas de meditação, sentadas e paradas. Isso constitui outro obstáculo para a captação de alunos em número suficiente para manter um estabelecimento que se dedicasse a essa modalidade de Yôga. Somente os Yôgas de tradição tântrica possuem uma grande variedade de técnicas orgânicas. E todos sabem, ou deveriam saber, que não se podem misturar práticas tântricas com outras de tradição antitântrica!

A conclusão é a de que o Yôga Clássico possui uma tal profundidade e complexidade que é simplesmente impraticável sua aplicação em "academias de yóga" ocidentais. Preconceito? De forma alguma. Sou o primeiro a defender a igualdade dos homens, sejam eles orientais ou ocidentais e, como tal, o Yôga como um patrimônio da Humanidade. No entanto, pelos fatores meramente culturais que foram mencionados, o público não despenderia tempo e dinheiro para dedicar-se a um trabalho tão sério quanto sem atrativos consumistas. Somente estudiosos de alto padrão conseguem entender as propostas do Yôga de Pátañjali. Ele é produto de uma codificação que não apela para a terapia nem para o misticismo. Como se sabe, estas duas abordagens (terapia e misticismo) são altamente comerciais e o Yôga Antigo não compreendia tais propostas. O Yôga da antiguidade clássica e pré-clássica situa-se como uma filosofia técnica de bases naturalistas (Sámkhya), portanto, sem o espiritualismo que lhe foi atribuído a posteriori.

Texto do Professor DeRose

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